Mudanças climáticas e IA: questões-chave para o Brasil no BRICS

País buscará entendimento com outros membros, diz embaixador

Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil Publicado em  26/12/2024

O Brasil assumirá a presidência do BRICS em 1º de janeiro e sediará a cúpula do grupo pela quarta vez. Para o governo brasileiro, esta é uma oportunidade de buscar o entendimento entre as dez nações que compõem o grupo, com o objetivo de construir um mundo melhor e mais sustentável.

Em entrevista à Agência Brasil , o embaixador Eduardo Saboia, sherpa (negociador principal) do BRICS em 2025, afirmou que o grupo tem grande importância no cenário global devido ao tamanho de sua população – mais de 40% do mundo – e de sua economia – 37% do PIB mundial em poder de compra.

"Se quisermos construir um mundo melhor, um mundo sustentável, os BRICS devem fazer parte dessa construção. E é importante haver entendimento entre esses países porque isso ajuda a alcançar um entendimento mais amplo com outras nações", disse Saboia.

Além das questões já discutidas pelo BRICS, como o uso de moedas locais no comércio entre os países e a reforma da governança global, o Brasil aproveitará sua posição de vanguarda no grupo para buscar consenso em questões como mudanças climáticas, desenvolvimento sustentável com redução da pobreza e governança sobre inteligência artificial (IA).

A questão climática é de particular interesse, já que a cidade brasileira de Belém sediará a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30) no mesmo ano.

"Como podemos alavancar a presidência do BRICS para construir um consenso que contribua para o sucesso da COP-30? Os países-membros do BRICS têm um papel central a desempenhar no setor energético, que é a principal fonte de emissões de gases de efeito estufa", afirmou.

Por outro lado, a governança da inteligência artificial também é uma questão relevante, pois, segundo o embaixador, é uma tecnologia "disruptiva". Não existe governança de inteligência artificial, mas este é um debate que está em andamento. Talvez, durante a presidência do Brasil no BRICS, possamos promover uma visão compartilhada entre esses países sobre como deve ser a governança de inteligência artificial.

Saboia acredita que os BRICS são uma força construtiva e estabilizadora. "É estabilizador porque, se países tão diferentes e com sistemas políticos tão diversos, cada um com seus próprios desafios, conseguem se entender e se unir a cada ano, isso beneficia a todos. Soluções para a população surgem disso."

Extensão

A primeira cúpula foi realizada em 2009, inicialmente com Brasil, Rússia, Índia e China (o “Bric” original). Em 2011, a África do Sul se juntou ao grupo, transformando a sigla em “Brics”.

Em 2023, durante a cúpula em Joanesburgo, África do Sul, o BRICS convidou Argentina, Irã, Arábia Saudita, Egito, Etiópia e Emirados Árabes Unidos para se juntarem ao grupo a partir de janeiro de 2024. A Argentina decidiu não se juntar, enquanto os outros países participaram da cúpula deste ano em Kazan, Rússia.

O embaixador sustenta que a expansão do BRICS é resultado do sucesso do grupo. “Hoje, os BRICS estão gerando muito interesse, e é importante que eles sejam representativos dos países do Sul Global e das economias emergentes.”

Segundo ele, a expansão do grupo tem apoio do Brasil e está alinhada à posição do país sobre a reforma da governança global. Se defendemos a reforma e a expansão do Conselho de Segurança da ONU, faz sentido também apoiar a expansão dos BRICS. Agora, há uma agenda e acordos, então os países que aderiram aceitaram esses compromissos. Uma das prioridades é garantir que essa adesão seja o mais tranquila e eficaz possível.

Na cúpula de Kazan, o BRICS também anunciou uma nova categoria de membros — países associados — e decidiu convidar 13 nações: Cuba, Bolívia, Turquia, Nigéria, Indonésia, Argélia, Bielorrússia, Malásia, Uzbequistão, Cazaquistão, Tailândia, Vietnã e Uganda.

Saboia afirmou que o anúncio sobre a adesão dos países associados será feito nas próximas semanas. Uma das prioridades da nossa presidência é garantir que esses países se sintam bem-vindos na família BRICS. É importante trabalhar para garantir o envolvimento deles. Eles participarão das reuniões dos chanceleres e também devem comparecer à cúpula.

Fonte: agenciabrasil.ebc.com.br

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